Eu tive sorte o suficiente para ter nascido na Toscana.
Meu pai e minha mãe nasceram e viveram a maior parte de suas vidas em uma pequena vila medieval, com mais ou menos 300 pessoas, uma típica vila da Toscana, com uma praça principal e quatro estradas partindo de lá em quatro direções diferentes, tanto para dentro do vilarejo, quanto para fora. Como os quatro pontos cardeais.
As casas de suas famílias ficavam a 100 metros de distância uma das outra, eles se apaixonaram e casaram-se pouco depois. Na época, meu pai tinha um Fiat 500, e era um carro da última moda… Cinquenta anos depois, o carro ainda está na moda, como a vida é engraçada!
Rigomagno. Este é o nome do vilarejo, localizado no topo de uma suave colina com vista para as vinhas, as oliveiras e a floresta. É o tipo de lugar no qual todo mundo conhece (e protege) todo mundo há gerações, onde você ganha o apelido de seu avô e pai.
Eu passei minha infância lá e nas casas de meus parentes – eu tinha um total de sete tias casadas, menos uma -, todas elas sempre cheias de familiares, com a lareira sempre acesa: no inverno para cozinhar e aquecer a casa, no verão apenas para cozinhar. Sempre havia uma panela no fogo e o cheiro da comida dominava minha respiração (e roupas) e cérebro desde cedo de manhã. O cozinheiro de cada casa era muito melhor no mesmo prato que os das outras casas. Na Toscana, adoramos brigar por tudo, temos um caráter forte e fortes crenças em sermos os melhores em muitas áreas… 🙂
Se fecho os olhos, posso sentir novamente o cheiro do aroma do vinho, antes de ser vinho, quando meu avô estava no processo de produzi-lo logo após a colheita. O frio da adega e o cheiro do subsolo, onde os barris descansavam, ou ainda o tempo da produção do azeite extra virgem, perto de uma lareira, onde grandes fatias de pão toscano eram tostados, polvilhados com o líquido dourado e uma pitada de sal (quando permitiam, eu também podia tomar um pequeno gole de vinho tinto, mas isso é segredo, pois eu era bem jovem).
Detalhes do hotel Castello del Nero, na Toscana, onde atuo como gerente geral
Provavelmente, na época eu já comecei a criar meu próprio paladar, pois tinha a oportunidade de saborear muitos ingredientes, frescos na temporada (sem geladeiras) e cozidos com paixão e amor.
Talvez, em um momento que ainda não consigo me lembrar, alguém deve ter sussurrado ao meu ouvido a visão de tornar-me um mestre em hospitalidade. Então, pouco depois, tomei a decisão, com 15 anos de idade, em tornar-me algum dia um gerente geral de um hotel de cinco estrelas (claro, eu não tinha a menor ideia de quanto esforço e anos de paciência, dedicação e paixão eu levaria, mas ainda estou contente com essa decisão).
Meu trabalho tem me levado para diferentes países e lugares na Itália, poderia me levar para Hong Kong, Dubai, África do Sul ou ainda para o Caribe. Eu simplesmente decidi não fazer isso, decidi tentar trabalhar – e desenvolver meu profissionalismo e minha paixão – o máximo possível na minha região, onde tive a oportunidade de aumentar minha família (tenho dois filhos, Bianca, que vai fazer 15 em julho, e Giulio – o nome do meu pai –, que vai fazer 12 em novembro), comprar minha casa, não estar muito longe de meus pais e minha irmã e dos amigos que tenho desde sempre. Minha esposa, ambos os meus filhos (e também nosso cão) nasceram e cresceram na Toscana.
Na Toscana, dou 120% do meu potencial, pois amo compartilhar minhas dicas e sugestões pessoais, histórias e lojas, restaurantes, vinícolas, queijos e produtores de azeite extra virgem favoritos, assim como, o melhor açougueiro para um bife de estilo florentino (melhor se o gado for Chianina original da vila onde moro), o melhor presunto toscano na região e a melhor fábrica de couro, até sugestão de estrada com a melhor paisagem para ir de um lado para o outro (e para onde ir atrás de uma boa taça de vinho com bela paisagem).
A Toscana está no meu sangue! Eu sou toscano!