Reino do Dragão

Há pouco tempo, o Butão entrou para o mapa turístico por ser o único no mundo a trabalhar com o conceito de Felicidade Interna Bruta e medi-la como uma forma de valorizar a fraternidade e a evolução pessoal, e se contrapor ao Produto Interno Bruto que nos países afora se relaciona somente com a busca material para determinar o que é qualidade de vida. O resultado é um país que está entre os mais pobres do mundo, mas é aparentemente feliz, com taxas zero de fome, analfabetismo e violência. A fórmula para a tal felicidade não existe em livros, mas ainda assim é praticada com caligrafia perfeita através das ações caridosas com a natureza, da meditação, da alimentação saudável e no prazer de conversar por horas com um ilustre desconhecido. Possivelmente, diferente de todos os lugares onde você já pisou, a região incrustada entre a Índia e a China, guarda a inocência quase perdida de uma vida ladeada de simplicidade em meio aos gigantismos proporcionados pela natureza. Por aqui, o mais comum é caminhar pelas ruas – nem todas elas asfaltadas – e se distrair com a simpatia que impregna o povo butanês, que se abriu para o restante do mundo apenas em 1974 quando passou a ser permitida a entrada de estrangeiros nesta terra. Antes, a harmonia era partilhada apenas por eles, e hoje a visita ao país é condicionada pelo número de quartos em hotéis que ele pode oferecer.

Quem escolhe conhecer este território, se permite mergulhar em um universo natural bastante privilegiado já que a partir de Paro – a principal cidade butanesa – é possível ver duas das montanhas mais altas do mundo, vislumbradas na forma da Gangkhar Puensum, situada a 7541 metros acima do nível do mar, e a Jumolhari que mede 7314 metros. Apesar de ser uma tentação, não é recomendado nem mesmo aos mais experientes aventureiros escalar, sem acompanhamento de profissionais locais, qualquer um dos montes que durante grande parte do ano permanecem cobertos de neve. As imensas proporções desta cadeia montanhesca configuram um cartão-postal e também podem figurar como pano de fundo para os atletas que desejam um cenário paradisíaco em sua calmaria, para a prática do trekking, de forma que o melhor período para a realização do esporte é entre os meses de março e julho. Para quem não está em busca de adrenalina, o Butão reserva a curiosidade frente às construções que delineiam sua identidade, uma vez que dono de mais de dois mil templos budistas, alguns destes edifícios desafiam a ordem, como é o caso do Mosteiro Taktsang erguido no século 17 na proximidade de uma caverna, no topo de uma montanha há mais de três mil metros de altura, como uma espécie de refúgio solitário para a meditação de grandes mestres, entre eles, Padmasambhava. Traçada em linhas da arquitetura típica, e com tons fortes do vermelho e do dourado, a construção é acessível apenas de mula ou a pé.
interna
Na Terra do dragão, Buda é rei
Paro também acolhe o templo Kichu Lhakhang que tem carinho especial entre os butaneses, bem como, entre os turistas que o visitam, por ser o mais antigo do país, datado do século 7. Em respeito à simbologia do Kichu, muitos seguidores do budismo chegam aqui para uma benção, e podem aproveitar para observar relíquias como estátuas de Buda Sakyamuni e de dois de seus discípulos, Maugalbu (Maudgalyana) e Sharibu (Shariputra). Em harmonia com a religião predominante no Butão, Chortens são marca registrada, e representam a devoção da população, uma vez que eles são pequenos templos responsáveis por salvaguardar a imagem de Buda. Ainda em sua face arquitetônica, as casas daqui não passam despercebidas, pois ensinam sobre solidariedade, mesmo que implicitamente, e se distanciam bastante das tradições ocidentais ao serem erguidas em vários andares para que haja espaço para os animais, para o estoque de alimentos, para os membros mais velhos da família e para os donos da casa. Sem utilizar cimento ou blocos, essas habitações ganham forma a partir da junção de madeira e barro amassado, ou do simples encaixe madeireiro, sem que para isso seja usado um único prego. Do lado de fora, a pintura feita à mão traz motivações diferenciadas ligadas ao lado místico butanês, o que faz com que sejam comuns os desenhos de dragões e de rodas da sorte, dois dos principais símbolos do país, com ênfase para o dragão que é estampado na bandeira laranja e amarela do Butão e em vários souvenires vendidos pelas lojas locais.

Antes que a satisfação em estar aqui se preencha na meditação budista ou na contemplação de seus mais históricos exemplares arquitetônicos, abra espaço para se dedicar aos sabores butaneses servidos nos restaurantes da capital Thimpu. No cardápio de pratos preferidos pelos moradores daqui estão o emadatshi que consiste em queijo branco com pimenta e o shakam pa, que é carne de boi seca, e dificilmente você encontra guloseimas ocidentais como sanduíches e chocolates, uma vez que na base da alimentação do butanês estão queijos, arroz vermelho, batatas, peixes e muita pimenta. Se desejar uma bebida made in Butão, opte pelo ara, um destilado de sabor suave produzido com arroz. Numa roda com butaneses, entre um chá e outro, puxe papo e renda-se ao sorriso espontâneo que brota na boca dessas pessoas que se dedicam a ser felizes e que em poucos minutos nos provam que essa tal felicidade existe e está – literalmente – nos pequenos e mais simples detalhes.

Anote aí!
– Desde 2004 é expressamente proibida a venda e consumo de cigarro no Butão. Mas se o turista levar o seu cigarro não há problemas.
– O Butão é um reino budista, e passou a contar com acesso a celulares e a internet apenas a partir de 1999. Não espere velocidade ou sinal de ótima qualidade.
– No café da manhã é bastante normal ver os butaneses consumirem batata com arroz.
– A moeda local é a Ngultrum, o idioma é o Dzongkha e a diferença de fuso corresponde a mais nove horas em relação ao horário de Brasília.
– É comum que as pessoas não se sintam muito bem nos pontos mais altos do Butão, que podem chegar a seis mil metros acima do nível do mar.

Para saber mais:
www.tourism.gov.bt


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

[fbcomments]
INSTAGRAM
SIGA A GENTE
Translate »