Nos embalos do carimbó

A partir de Belém, no Pará, durante três horas uma balsa com trabalhadores locais e turistas curiosos desliza sobre as águas da Baía de Marajó. A cada hora que se fecha, o arredor acolhe o melhor da fauna e flora em harmonia com o esplendor do sol, tanto no nascer quanto no poente. Com tal cenário não resta outra alternativa, senão relaxar, permitir que o pensamento flua para onde desejar. Mais quarenta minutos de viagem divididos em nova travessia de balsa e alguns quilômetros de estrada, os pés tocam o solo de Soure, cidade de pouco mais de 30 mil habitantes e um dos principais pólos turísticos da Ilha de Marajó, no norte brasileiro.

Da janela do carro, as ruas se exibem em pacificidade, ora com cenas que contrariam a urbanidade, como lingüiças que defumam ao sol penduradas em varais, ora com moradores que desafiam a memória ao tentarem descobrir quem são os ilustres desconhecidos que chegam a sua terra. Em frente, a paisagem adquire tons selvagens com a percepção de um gigante de pele negra, predominante em todo cenário daqui para frente. São os búfalos. Animais que em fase adulta podem ultrapassar a barreira dos 1200 quilos e que por aqui servem de meio de transporte para polícia local, ou como atração na Fazenda São Jerônimo. Comandada pela simpática Dona Jerônima, a estância rodeada de coqueiros foi no passado abrigo para a equipe do reality show No Limite, e atualmente é um dos componentes do turismo local, ao oferecer passeios de 2,5 quilômetros de canoa e a pé, no meio de uma selva de mistérios múltiplos, ou, por que não, encarar durante 40 minutos o lombo de um búfalo mal encarado que perpassa caminhos da floresta como um verdadeiro rei. Na sede da fazenda, água de moringa e comida caseira – arroz com feijão, carne de búfalo e salada – satisfazem até mesmo os mais sofisticados paladares.

natureza

Não muito distante, a vida se distrai com o clima de desertidão da praia de Goiabal. Sem qualquer estrutura turística, o que mantém sua beleza natural, a área é garantia de um banho ladeado de poucos olhares, apenas do soprar do vento que refresca os 32º insistentes. À noite, o desconhecimento de qualquer tipo de poluição permite constatar a proximidade das estrelas, e o silêncio, até então, dominante, abre espaço para alegria contagiante de dançarinos do autêntico Carimbó. Com sensualidade e gingado expressivo, homens e mulheres de sorrisos fáceis ganham a simpatia de quem os assiste. Vem meu povo dançar, Guerreiro /Na tribo do Grão-Pará /Vem morena com brinco de osso/ Gira a saia pra gente dançar / Eu quero cantar, ô / Eu quero cantar /Cantar o carimbo embolado diz a letra Carimbó Embolado, de Adilson Alcântara, que como muitas se torna irresistível e convidativa a dançar o ritmo típico dessas bandas. No carimbó, homens trajam roupas de pescadores, enquanto as mulheres surgem com saias rodadas e ambos exalam charme, muitas vezes, irresistível.

No centro de Soure a vida simples divide espaço com uma série de bicicletas, e daqui além das lembranças na mente é imprescindível conhecer a história de Carlos Amaral que sobrevive de suas peças artesanais – feitas ao vivo para os viajantes – e de sua vivência como descendente dos índios Aruãs. Um dos souvenires característicos de toda Marajó é o couro, convertido em sapatos, bolsas, carteiras…No extremo norte brasileiro, Soure é muito mais do que uma descoberta. É, de fato, um tesouro intocado.

Onde Ficar:
Pousada Canto do Francês – 9 apartamentos
Hotel Ilha do Marajó – 32 apartamentos
Casarão da Amazônia – 10 apartamentos

Para saber mais:
www.paraturismo.pa.gov.br


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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